Há um novo tipo de chato na praça – o questionador com celular
- cmz

- 27 de ago.
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Por Eloi Zanetti
Em 1962 o escritor Guilherme Figueiredo publicou o livro Tratado Geral dos Chatos, onde descreve de maneira irônica os tipos de chatos que existiam na época. Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes e hoje temos um novo tipo de chato – o questionador com celular na mão.
Em uma conversa entre amigos você fala alguma coisa, cita uma frase, um dado, um número, uma quantidade, um nome qualquer e ele, imediatamente, vai ao Google, conferir se o que você disse está certo e, se a informação não bater com o papai Google, ele te questionará sempre em voz alta, só para ter o gosto sádico de contrariar e criar controvérsias. Suas interpelações são sempre assim:
- Não é bem isso!
- O Google está dizendo que...
Ele usa o celular para aborrecer as pessoas e atrapalhar as conversas
Em bate-papo sobre amenidades não interessa a precisão de dados e números, queremos que flua em bom ritmo e que cada um contribua com o que sabe e tem interesse, mas o chato do celular não deixa, ele quer questionar, mostrar que é sabidão, colocar a outra pessoa em constrangimento.
Normalmente o chato senta-se à mesa já com o aparelhinho na mão, atento às suas vítimas. Ele nem reflete o que está sendo conversado, isto é, não escuta ninguém, o gosto dele é contrariar e com isso desmanchar boas conversas.
Há pessoas que nasceram com o espírito da contradição, seja lá o que você disser, elas sempre discordarão e agora, com um celular na mão, aumentam as chances de contradição. Para muitos, a discordância é tomada como insulto, pois alguém - o chato de celular - está questionando de maneira rude e vulgar.
Rubem Alves na sua belíssima crônica sobre a diferença entre jogar frescobol e tênis diz: no frescobol a ideia é que ninguém perca, que um facilite a jogada do outro para que o jogo flua no prazer do seu andamento, no tênis a ideia é tirar o outro da jogada com cortes rápidos e violentos – e é isto que o novo tipo de chato faz.
Quando alguém em uma roda de amigos, à mesa, leva o celular e o coloca ao lado, olhando sempre para ele, eu desconfio – é mais um chato de celular.



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